Nasci em 3 de fevereiro de 1957 na cidade de
Ourinhos,meus pais não tinham nem escola e nem dinheiro,nasci num lugar bem
pobre e de parteira com oito meses de gestação,sei que minha mãe sofreu muito
no meu parto,depois que eu cresci um pouquinho,meu pai começou a passear comigo
em seu colo pra mostrar para os outros seu filho menino,segundo minha mãe,ele
andava todo orgulhoso,claro que tudo isso não tenho em minha memória,mas tenho
lembranças de quando eu era bem pequenino, e uma destas lembranças foi quando
agente passava muitas necessidades,e as vezes não tinha o que comer,meu pai
andava pelas beiras de estradas procurando plantações de mandioca de de
abóbora,e quando encontrava trazia pra comermos, minha mãe fazia mandioca
cozida as vezes frita, e até mandioca com açúcar, também tinha abobora
cozida,meu pai sofria pois ele não ganhava muito bem para comprar do bom e do
melhor,minha mãe dizia "Adauto um dia vamos dar rizada desta
situação".
Meu pai
trabalhou numa pedreira em S.Pedro do Turvo,minha mãe era costureira,mas
costureira naquela época ganhava muito pouco pois as mulheres quase todas
aprendiam este oficio,mas ela conseguiu fazer uma pequena economia,foi tão
pequena que deu só pra comprar um sapatinho pra mim,o nome do sapatinho
"comiqueto"kkkkkkkk,a côr vermelho com um botão branco,me lembro que
quando ganhei fiquei super contente pois era meu primeiro sapatinho. Vesti o
sapatinho e sai correndo direto para a pedreira para mostrar para o meu pai o
presente que eu tinha ganho,pela minha lembrança meu pai ficou muito feliz, e
me senti todo cheio de estar ali compartilhando aquele momento com meu herói.
Nesta mesma época nasceu meu irmão,mais um
menino. Eu tinha um pouco mais de 3 anos meu pai começou a trabalhar numa
fabrica de óleo que ficava na Rodovia Raposo Tavares,todos os dias minha mãe
tinha que levar o almoço pra ele,levava numa marmita, me lembro quando ao longe
antes de atravessarmos a rodovia,eu avistava meu herói,quando agente chegava
perto dele eu olhava pra cima e via aquele gigante,um homem bonito e forte,me sentia
importante pois ali estava meu porto seguro,agente voltava pra casa e eu não
via a hora de chegar a noitinha pra eu ver novamente meu herói.
Passado mais
algum tempo meu pai foi trabalhar em uma outra empresa,era um atacadista que
distribuía vários tipos de produtos ao comércio de toda a região, meu pai era
entregador,e saqueiro ou seja ele viajava de caminhão para entregar as
mercadorias e também carregava os caminhões,e muitas vezes tinha que carregar
os caminhões de sacos de farinha,açúcar e outros produtos,estes sacos pesava de
50 a 60 quilos. Algumas vezes minha mãe levava eu e meu irmão pra gente ver meu
pai carregar os caminhões,ficávamos de frente a empresa assistindo aquele homem
carregando aqueles caminhões,me lembro bem,dentro de um salão ficava empilhados
centenas de sacos de açúcar cada um com seus 60 quilos,um homem pegava aqueles
sacos e jogava um por um para meu pai agarrar e depois ele tinha que jogar para
outro homem que ficava em cima da carroceria do caminhão,eu via aquelas cenas e
ficava vislumbrado de ver a força de meu herói,como era bonito,pra mim ele era
o homem mais forte do mundo.
Quando eu chegava em casa eu ia brincar de ser meu
pai,pegava todos os travesseiros fazia da cama como se fosse a carroceria do
caminhão,e imitava meu pai,o travesseiro era o saco,eu pegava cada travesseiro
e jogava em cima da cama,eu imaginava que em cima da cama tinha um
outro"homem" e gritava segura mais este e jogava o travesseiro
imaginando que era um saco de açúcar de 60 quilos,vem agora em minha memória a
felicidade que eu menino de 5 anos sentia de brincar de ser meu pai.
Quando ele
chegava, estava super cansado,eu sentia um cheiro forte de suor, era o cheiro
de pai,ele entrava tomava um banho e ligava o rádio para ouvir a voz do
Brasil,e depois ouvia o Repórter Esso,e eu ficava do seu lado,cheio de orgulho
de estar ali pertinho daquele gigante.
Uma das recordações que tenho de minha infância
era a criatividade que eu tinha para brincar,a situação financeira ainda era
grande,e meus pais não tinha condição de comprar brinquedos para mim e para meu
irmão,então eu fazia de um toco,ou um tijolo um belo brinquedo na imaginação,um
dia na época de natal meu pai me contou que tinha um velhinho de barba branca
que dava brinquedos para as crianças na noite de natal,e me perguntou o que
eu queria ganhar,eu falei que queria ganhar um carrinho,então meu pai me disse
que eu e meu irmão tinha que deixar nossos sapatinhos em baixo da cama que o
velhinho de barba branca o papai noel deixaria juntos dos sapatinhos um
presente, eu meu irmão dormíamos na mesma cama.
Ficamos
alegres,e também ansiosos para que chegasse logo a noite de natal,eu falei pro
meu pai que eu não iria dormir enquanto não visse o papai noel. Chegado a noite
de natal,colocamos nossos sapatinhos em baixo da cama,meu coração batia
acelerado,meus pensamentos estava cheio de imaginações,eu queria ficar
acordado,mas o sono veio e eu meu irmão dormimos. Quando amanheceu olhei em
baixo da cama e la estava dois carrinhos de madeira,o meu era uma
ambulancinha,branquinha com cruzinhas pintadas de vermelho,peguei o carrinho
pulei da cama e sai correndo, gritando: O papai noel veio,ele me deu um
carrinho,papai,mamãe olhem o carrinho,papai noel veio.Era uma das maiores
alegrias que até então eu sentia na minha vida.Em outros natais aconteceu a
mesma coisa,da mesma forma,e eu nunca conseguia ficar acordado pra ver o papai
noel.Mas um dia falaram pra mim que papai noel não existe,e pensei que ele
realmente não existia. Mas ele existi,descobri que o papai noel que deixava os
presentes em baixo da cama era o meu herói o meu pai,então papai noel existi
sim,e pra mim ele vai sempre existir,ele não é velhinho de barba branca,mas é
meu papai noel de verdade,e muitos presentes me deu,principalmente o presente
da dignidade,de como ser honesto,e o maior presente que ele me deu foi:.....
ele mesmo.
Era o começo da década de 60,um tempo bem
diferente do tempo de hoje,a comunicação mais fluente era o rádio,recordo que
meu pai conseguiu comprar um radio,era daquele aparelho grande com varias
faixas,tinha até tocador de disco,para nós foi uma festa,imagine na minha casa
tinha um radio.Digo que com este radio meu pai me fez gostar de futebol,me
lembro de meu pai torcendo para o Brasil na copa de 62,e o Brasil foi bi-campeão do mundo.
Meu pai ouvia todos os jogos do Palmeiras,e me colocava em seu colo para torcermos
juntos,também foi pelo radio que rezávamos, ouvíamos musicas caipiras. Todos os
dias esperávamos meu pai chegar do serviço para ouvirmos o rádio.
Naquele tempo
quando chegava o final o domingo,era o dia de macarronada com frango e de tomar
tubaina,depois do almoço a tarde eu e meu pai íamos assistir jogo no
Ourinhense,outras vezes,com minha mãe e meu irmão agente ia no auditório da
Radio Clube assistir o programa do Zé Gogoy,programa sertanejo,meu nos levava
para assistir filmes no Cine Ourinhos,mas o passeio mais gostoso era quando
íamos na praça Mello Peixoto,meus pais ficavam sentados no banco da
praça,comprava para nós pipoca,depois eu e meu irmão corríamos por toda a
praça,sem contar as muitas vezes que os passarinhos da praça faziam cocô em
nossas cabeças,meu pai e minha mãe riam muito.
Meu pai
gostava muito de jogar futebol,quando ele era solteiro ele era goleiro do time
de São Pedro do Turvo,diziam os mais antigos que ele foi o melhor
goleiro,muitas vezes ele ia jogar e me levava no campo para segurar suas
roupas,e eu ficava sentado na beira do campo assistindo não o jogo mas sim
assistindo o meu pai,minha admiração era tanta que pra mim era só ele quem
estava no campo,eu dizia pra todos meu pai era melhor que o Péle e o
Garrincha,imagine!!!!!! mas ele era o meu herói.
Quando eu era criança tinha muito medo de que meu pai morresse,eu não podia aceitar que aquele que eu tanto amava poderia um dia partir.Se quando do nascimento Deus me dissesse:La na terra ha milhares de homens te esperando pra vc escolher para ser seu pai,com certeza eu iria encontrar um homem chamado Adauto Pereira Ramos.Sem demagogia para mim nunca vai existir um homem como meu pai,ele transpirava simplicidade e honestidade,um homem que nunca vi soltar um palavrão,que nunca teve inimigo,que nunca deixou magoas,que sempre foi leal em tudo que fazia,que nunca traiu minha mãe,que nunca deixou de se preocupar e zelar com a familia,meu pai meu grande herói,não me deixou herança material,mas deixou a herança de como ser gente.Nunca tive vergonha de ser filho,e com meus 56 anos de idade não deixei de dar-lhe carinho com beijos e abraços,não deixei de passear com ele,de bater papo sentados na varanda de sua casa,de torcer pelo palmeiras,de pedir conselhos,com meus 56 anos sendo avô eu ainda era aquela mesma criança com muito medo de perde-lo.
Obrigado meu querido pai por tudo que me deste e por tudo que me ensinou,obrigado por ter sido fiel em tudo que fizeste,obrigado por ter nos ensinados a perdoar e pedir perdão,obrigado pelo seus testemunhos e atitudes que fez de mim um homem cristão,hoje sei que não esta mais aqui entre nós como humano,mas sei que esta no céu e vai interceder sempre por nós. Bença pai
Quando eu era criança tinha muito medo de que meu pai morresse,eu não podia aceitar que aquele que eu tanto amava poderia um dia partir.Se quando do nascimento Deus me dissesse:La na terra ha milhares de homens te esperando pra vc escolher para ser seu pai,com certeza eu iria encontrar um homem chamado Adauto Pereira Ramos.Sem demagogia para mim nunca vai existir um homem como meu pai,ele transpirava simplicidade e honestidade,um homem que nunca vi soltar um palavrão,que nunca teve inimigo,que nunca deixou magoas,que sempre foi leal em tudo que fazia,que nunca traiu minha mãe,que nunca deixou de se preocupar e zelar com a familia,meu pai meu grande herói,não me deixou herança material,mas deixou a herança de como ser gente.Nunca tive vergonha de ser filho,e com meus 56 anos de idade não deixei de dar-lhe carinho com beijos e abraços,não deixei de passear com ele,de bater papo sentados na varanda de sua casa,de torcer pelo palmeiras,de pedir conselhos,com meus 56 anos sendo avô eu ainda era aquela mesma criança com muito medo de perde-lo.
Obrigado meu querido pai por tudo que me deste e por tudo que me ensinou,obrigado por ter sido fiel em tudo que fizeste,obrigado por ter nos ensinados a perdoar e pedir perdão,obrigado pelo seus testemunhos e atitudes que fez de mim um homem cristão,hoje sei que não esta mais aqui entre nós como humano,mas sei que esta no céu e vai interceder sempre por nós. Bença pai